21 setembro 2007

Sobre o roubo e a trovoada...

(roubado)

Conformar-me com o destino dos amantes, e com as fórmulas verbais feias que servem apenas para evitar o « Odeio-te, desgraçada.» Jogaria as mesóclises na parede, chamá-las-ia de lagartixa, morreria de rir de uma construção dessas e partiria para outra como nos é de destino.
E assim. Fui. Assim, simples.

O amor é gema de ovo no copo azul lá do céu. A felicidade mora no apartamento ao lado... Só se engana quem quer.

Dura um dia. Dois. Quatro anos. Depois pára de durar. É do jogo das algas marinhas e do dormir em conchinha. Não esqueço que o amor fecha as portas às três da madrugada e fica surdo. Há alguma inteligência nisso. Só pode. Não insistir. Suspirar. Reconhecer. Está de bom tamanho. O amor acaba. Com uma porta que bate, um telefonema de madrugada, um grito.

O amor acaba.Se não acaba não foi amor. Foi biscate emocional. Dói. Faz parte da idéia. Acabar aqui e começar ali. Com a diferença de que o amor não vale nada. O amor é armadilha sem futuro, punhado de frases banais significando todas a mesma coisa.

As pessoas são diferentes, estou de acordo. Histórias de amor são todas iguais. Volta. Abraça-me. O amor não doerá mais. A solidão na boa. Corpos que se entendem, almas não.

O amor é o mesmo desconforto de sempre. Cada um fala uma língua. Não há paz. Não há experiência que alivie o sofrimento do próximo desencontro. O amor é o tal carro com os faróis virados para trás, iluminando o passado e seu caminho já percorrido. A dor de ontem não alivia a de amanhã. Dói sempre mais. Peito partido, coração alquebrado, solidão-filha-da-mãe..

É triste. O amor é triste. ...é de chorar com seu desapego ao que possa ser qualquer aceno de felicidade. E se a esperança existe, deixaram na mesa de edição. Chora-se muito. Na tela, na platéia. Em todos a impressão de que a única mensagem positiva é a do amor sem optimismo. Não dá para ter esperança em comunicar a paixão ao outro. «Desejo-te. Ela não me deseja.» Eis o diálogo que mais se ouve nas ruas.

O amor é isso que se vê. Hoje beija, amanhã não beija, depois de amanhã é domingo e segunda-feira ninguém sabe o que será. Ninguém entende nada, mas eu quero ver outra vez esta história. Ninguém quer aprender. Se tirarem esse impulso de infelicidade de nossas vidas, ninguém sai mais de casa para trabalhar. É o que nos resta. Zumbis numa viagem para longe... quando a memória de quem se amou não mais doerá.

Psssst, faz favor... Um bilhete pra mim nesse comboio. Sim. Sem volta.


J.S.


(roubado)

6 comentários:

A. disse...

______________________________...

A. disse...

pssst... ladrão que rouba a ladrão... e assim ficamos em casa... a conversar... é que, por aqui , também se chove muito... lá fora.






...e a felicidade não é sequer
a gota de orvalho numa
pétala de flor.

Anabela disse...

:)
Palavras para quê?
Está lindo.
É isso tudo. Mesmo.

Anabela disse...

... e o amor às vezes está só cansado...

Abssinto disse...

A nossa fraqueza � acabar por voltar sempre.

A. disse...

O amor às vezes...às vezes, não.

Intimidade (embora um pouco explicito)

You've got your ball  You've got your chain  Tied to me tight tie me up again  Who's got their claws  In you my friend  In...