Despido de preconceitos e ideias preconcebidas. Tal como a vida.

08 agosto 2006

S. Pedro do Estoril

A estação de comboio tinha uma passagem de nível muito a proveito de quem estava do outro lado da linha e aproveitava o facto de haver uma estação e uma passagem com movimento de pessoas. A ver: um centro comercial, três restaurantes e uma loja de conveniência.
A passagem fechou e estamos no verão. Não há pessoas que queiram gastar. Não há pessoas sequer. Um dos restaurantes estava com os donos á porta, o centro comercial... não sei se volto lá a entrar, para deprimente já bastam os meus post's. A loja, a loja... Entrei para ver se havia fruta, leite do dia e cerveja. Não havia fruta, não havia leite do dia e reparei num pormenor interessante, a caixa registadora tinha a gaveta aberta e nem moedas nem notas. Os donos da loja tinham idade para serem meus avós (e eu já tenho idade para ser avô). Mesmo assim reparei que havia alguma animosidade entre eles, ambos com pele de parafina, ambos com calor e vestidos com um "pijama" fresco e ambos com um olhar de quem busca. Olhos fixos nos meus olhos, seguindo o meu olhar, fixando-se nos pontos da casa que eu via pela primeira vez e que para eles é familiar.
Paguei com alguma hesitação porque o fazia para uma caixa sem troco...

Não sei a partir de que compromisso é que se deixa de estar disponível para mudar ou se pode pedir a alguém que mude mas, por outro lado, não acho que a incerteza da mudança nos deva bloquear o espírito. O que é que eu vou fazer quando deixar de ter o rabo virado para a lua? Vou ficar á espera que voltem a abrir a "passagem"? Quantas pessoas eu conheço que não querem que o tempo mude? Eu quero que o tempo mude?

Enfim, de uma coisa eu tenho a certeza. A passagem de nível não volta a abrir.

05 agosto 2006

A Alma

21 Gramas, dizem. Acho que por um lado é bem mais leve e por outro pesa muito mais.
Ás vezes flutua como o saco de plástico do "American Beauty" sem rumo, com a leveza e uma beleza própria do espírito que está por dentro. Gosto de olhar a forma como certas pessoas "saltitam" na vida em certos momentos. Parece que nada as prende, nada as faz olhar para trás ou para baixo.
Sobretudo está cheia de lugares que são a nossa vida escrita como um livro. Podemos sempre folhear e ver as várias pessoas que somos conforme os momentos e os estados interiores.
Há folhas que estão sempre visiveis e que passamos a vida e ler, a querer repetir, sem nos apercebermos que foi escrito num tempo que não volta a passar.
Há páginas que não entendemos muito bem e outras que não queremos ler, que evitamos, que são de tal forma confusas que parecem escritas noutro livro, no livro de outra pessoa que não queremos ser, chegamos ao ponto de as querer arrancar como se isso fosse possivel, como se elas não fizessem parte de nós...
Entretido a ler o livro, penso que passamos mais tempo a lê-lo do que a escrever, ou quando reparamos que o livro tem mais umas páginas escritas nem nos apercebemos de o ter feito.

Tenho saudades, tenho saudades, gostava de ser filho outra vez, gostava de falar contigo outra vez.
Provavelmente uma das pessoas mais preguiçosas que poderá ter o desprazer de conhecer...