11 setembro 2006

Contemplar I

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Estou de pé, olhos fixos num ponto vazio, a rever mentalmente cada momento.
Correr, acertar o passo para encontrar o limite da ponte. Chamada, impulsão, impulsão, prazer... Enrolo, mas não me apercebo da alternância de azuis: céu, mar, céu, mar... não me lembro... acho que nesses momentos o corpo tem vontade própria, está em movimento devido ao impulso que eu lhe dei e á trajectória que lhe impus.
Algures enquanto giro sinto que chega o momento de parar, há um impulso que vem de dentro e me diz "abre". O movimento de rotação torna-se mais lento, sinto-me quase uma pena em queda e acerto a trajectória para "entrar" direito.
Mergulhar...
Sentir a frescura e o borbulhar do mar a fazerem-me cócegas na pele. Sentir alívio como se respirasse fundo. Volto á tona, olho para cima e subo as escadas. Mãos nas ancas, olho para dentro. Ainda não consigo pensar em nada.

Quieto, o azul do céu vai-se tornando mais nítido, tenho um sorriso nos olhos, sinto prazer como se acabasse de saltar...
Este corpo já não dá para saltos destes mas por dentro acarinha a memória do salto tornando-o mais belo e mais amplo. Foi o corpo que me deu o movimento, é o corpo que me ajuda a dançar.
Vive comigo. Cresce comigo. Sempre comigo, ao meu lado, debaixo de mim, por fora de mim. Tem sido eu, mostra-me no espelho o que os outros pensam que sou, a minha janela para o mundo. Tem-me ajudado a crescer e, pouco a pouco, vou deixando de precisar dele.

Qualquer dia dispo-o, sento-o sossegado no sofá da minha varanda virado para o mar, roubo-lhe o olhar e o abraço, dou-lhe um beijo e abandono-o.

7 comentários:

Varanda disse...

A sério? Sabes, acho que é da idade: os bicos de papagaio, as varizes... sei lá, ando um bocado lamechas.
Mas importa reter os sitios de onde me veio a motivação para este texto. (As pistas da Blue) Tenho que ler mais coisas de Vergilio Ferreira e prometo que vou tentar escrever um texto mais animado.

Beijo

(ui...?)

Varanda disse...

Agora á a minha vez de ir passear com o meu amiguinho...

A vontade que me dá é fazer "copy, paste" do teu comentário para a página da frente. É onde ele devia estar, mas por outro lado agrada-me a ideia de sentir que por detrás da capa do meu espaço estar tanta emoção, tanta sensibilidade, tanta delicadeza. Apenas disponivel para quem se quiser dar ao trabalho de clicar e ler. Está por dentro, abrigado...

Não me agadeças, eu é que te agradeço


Beijo

Varanda disse...

Obrigado pelo elogio e obrigado por teres lido.

Varanda disse...

Mal enjorcado é que não estava. Por acaso até gostei bastante e ocorreu-me escrever qualquer coisa sobre o que li, mas agora ou desenterras o que estava lá escrito e me mandas ou...

"all those moments will be lost in time like tears in rain"



Bom trabalho, diverte-te

Maria Ostra disse...

Ora aqui está uma varanda com cheiro a maresia! Muito bom texto, parabéns!

Anónimo disse...

E porque não, eu também, na distancia que entre nós se encheu de coisas, dizer-te que sim, que li e tropecei aqui. E esse ler suspenso que tu sabes ter sido roubado ao tempo, é o que tu quiseres que seja: um presente, um beijo ou apenas o meu amor mal embrulhado.

Um olhar espanhol

Jane & Cia disse...

Tão dentro de um novo mundo encontro palavras, passos de um contemplar reflectido.

Mergulhar nestas palavras despidas. Grata pela visita à minha humilde fábrica.

Intimidade (embora um pouco explicito)

You've got your ball  You've got your chain  Tied to me tight tie me up again  Who's got their claws  In you my friend  In...