Despido de preconceitos e ideias preconcebidas. Tal como a vida.

29 setembro 2006

Varanda said...

A minha natureza obriga-me a sorrir, OBRIGO-ME. Não há volta a dar. Não tenho tempo para sofrer, a vida é demasiado curta e eu não tenho tempo.Há demasiadas pessoas que eu amo neste mundo e tenho tão pouco tempo para estar com elas para andar a perder o meu tempo com o que me magoa. Não posso, não tenho tempo para isso. Já me basta ter que trabalhar... Não tenho tempo para me destruir, não posso, preciso de mim assim para poder ter disponibilidade e tempo para o que me interessa. Sou demasiado egoísta para pensar em quem não me ama ou em quem não sabe se me ama ou em quem pensa que me ama ou em quem quer que eu pense que me ama. Se eu fosse perder muito tempo com quem não sei o que é que eu ia dizer a quem eu sei? Como ia explicar que me andei a destruir e a ouvir silêncios e equívocos? Não é uma questão de prioridades, é uma questão de tempo...

(desculpa a inconfidência A.)

25 setembro 2006

Dependência

O que vou poder dizer sobre este assunto?
A imagem que me ocorre é a de algo pantanoso, peçonhento, um polvo que nada num lugar para onde não quero olhar.
Porque me apeteçe "despir-me" do que sinto em relação a isto?

Sinto-me castrado, impotente, há uma revolta surda, um bater descompassado, um entendimento silencioso. A palavra que sobrevoa é vergonha. Sinto-me envergonhado. Parece que a "espiral descendente" de quem me ama é minha responsabilidade. Não vale a pena repetir-me que não, que cada um é responsável por si mesmo, que não posso fazer ou modificar as escolhas de cada um. Parece sempre que ficou algo por dizer, algo por fazer, um abraço que iria modificar tudo...
Alguma vez vou ser capaz de olhar para a cara de quem depende de ti, falar-lhes sobre o que tu fazes e dizer-lhes que não presta? Que tu não prestas, quando eu sei que tu prestas mas não lhes podes dar felicidade porque não és feliz? Não trazes felicidade dentro de ti, trazes dor, trazes dependência de outra coisa, não deles, não do que eles precisam, não da sua "dependência".
Porque é que estamos sempre a pensar em culpa ou a não querer pensar neste assunto? A pensar noutra coisa qualquer?

Onde está a resposta para a dependência? Como é possível eu entender que alguém se queira destruir, suicidar, desistir... no entanto entendo, é como adormeçer, não querer acordar, um dia atráz do outro dia. Olho para uma parede, fecho os olhos, algo me abraça e aqueçe. Faz esquecer a merda onde estou, a merda em que dia após dia me tornei. Aquilo que eu sei que não quero mas não consigo deixar de olhar para a parede. Odeio a parede mas odeio-me mais a mim, dói-me que ainda haja quem me ame, não quero desiludir mais ninguém...


Como vou conseguir escrever sobre isto?

Contemplar IV

Sunken and buried TREASURES

Foto: P.P.

Contemplar III


Foto: P.P.

Contemplar II


Foto: P.P.

11 setembro 2006

Contemplar I

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Estou de pé, olhos fixos num ponto vazio, a rever mentalmente cada momento.
Correr, acertar o passo para encontrar o limite da ponte. Chamada, impulsão, impulsão, prazer... Enrolo, mas não me apercebo da alternância de azuis: céu, mar, céu, mar... não me lembro... acho que nesses momentos o corpo tem vontade própria, está em movimento devido ao impulso que eu lhe dei e á trajectória que lhe impus.
Algures enquanto giro sinto que chega o momento de parar, há um impulso que vem de dentro e me diz "abre". O movimento de rotação torna-se mais lento, sinto-me quase uma pena em queda e acerto a trajectória para "entrar" direito.
Mergulhar...
Sentir a frescura e o borbulhar do mar a fazerem-me cócegas na pele. Sentir alívio como se respirasse fundo. Volto á tona, olho para cima e subo as escadas. Mãos nas ancas, olho para dentro. Ainda não consigo pensar em nada.

Quieto, o azul do céu vai-se tornando mais nítido, tenho um sorriso nos olhos, sinto prazer como se acabasse de saltar...
Este corpo já não dá para saltos destes mas por dentro acarinha a memória do salto tornando-o mais belo e mais amplo. Foi o corpo que me deu o movimento, é o corpo que me ajuda a dançar.
Vive comigo. Cresce comigo. Sempre comigo, ao meu lado, debaixo de mim, por fora de mim. Tem sido eu, mostra-me no espelho o que os outros pensam que sou, a minha janela para o mundo. Tem-me ajudado a crescer e, pouco a pouco, vou deixando de precisar dele.

Qualquer dia dispo-o, sento-o sossegado no sofá da minha varanda virado para o mar, roubo-lhe o olhar e o abraço, dou-lhe um beijo e abandono-o.

01 setembro 2006

Askim

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"Os milagres não acontecem aos dezasseis anos.Nem aos dezoito,nem aos vinte, talvez nem aos trinta.E quanto á felicidade,essa coisa intangível,começam a fazer sentido as palavras... "vers laquelle on se hâte lentement."
Apressamo-nos,de facto...mas lentamente.
Se alguém me tivesse mostrado o futuro,decerto muitas lágrimas teriam sido evitadas.Mas viver sem lágrimas não é viver.O sentido da montagem humana só vem se formos ao encontro do que nos espera,na certeza de que tudo na vida tem o estigma da caducidade.
Só amar não acaba."


Frederico Lourenço.
Provavelmente uma das pessoas mais preguiçosas que poderá ter o desprazer de conhecer...